RUSSIA/UCRÂNIA/EUAOTAN- fevereiro de 2022
Uma colega de faculdade pediu minha opinião sobre essa questão. Eis o que lhe disse, 14/02/2022
Olha, M., contrariamente ao senso comum, a viagem dele, como presidente do Brasil, à Rússia, faria sentido SE ele fosse ciente da importância da Rússia para nós e para o contexto de esforços em favor da distensão das relações internacionais. Claro que o momento não é oportuno, isso é evidente.
Mas, mesmo agora, em meio dessa confusão-em grande parte provocada pelos EUA/OTAN, e também pela ação desregrada e cheia de ambição da União Europeia ao longo dos últimos 25 anos, de integrar incondicionalmente os países do leste europeu de forma rápida— obviamente sob pressão norte-americana–,mesmo agora, digo, em meio a essa confusão, a viagem de Bolsonaro poderia justificar-se SE ele respeitasse a importância dos arranjos que temos com a Rússia no âmbito do grupo BRICS.
Desde que assumiu, Bolsonaro criticou/ desprezou o BRICS assim como criticou/ desprezou e crítica o Mercosul e outras iniciativas de cooperação internacional, bilaterais e multilaterais, vai tudo no mesmo cesto. No atual momento das relações internacionais e tendo em conta a situação do Brasil no mundo, penso que o que mais nos interessa dentro da nossa agenda de relações com a Rússia é o foro dos BRICS, que tem juntos, além de Brasil e Rússia, a China, a Índia e a África do Sul, todos países importantíssimos para o Brasil, Sim, África do Sul também, e especialmente.
O BRICS nada mais é do que uma plataforma extraordinária para defendermos nossos interesses por aí fora, como é também o Mercosul e outros mecanismos multilaterais, como a FAO, a ONU, ou mesmo a CPLP. Então, entendo que a visita em si deve ser feita, claro que o momento não é definitivamente oportuno: apenas serve dos interesses eleitoreiros de campanha dele . Só que ele está indo lá, sem contar esse interesse eleitoreiro dele, pelos motivos errados ( trocas comerciais bilaterais são pouco relevantes, e essa importação de fertilizantes é altamente suspeita, dado o alto grau de uso pelo deus agro- o que tudo pode-de fertilizantes condenados ou poluidores no Brasil.
Agora, pelo lado do conflito ou de tensão que está armada entre russos e norte-americanos, a história é um pouco aquela de imaginar a reação de um cachorro grande e raivoso quando acuado contra a parede… E nada é muito simples, como gostaríamos, pois do lado da Rússia, há um ditador que se imagina CZAR de todas as rússias, que elimina sem pestanejar qualquer dissidência e tal, ou seja, um vilão poderoso. Um herói na turva visão cloroquina. Ele que reze para o conflito não estourar.
Penso efetivamente que não parece provável o Putin invadir de fato a Ucrânia.
Putinl já está conseguindo o que quer, ou seja, não deixar a OTAN se meter lá. O resto é botinadas: o Biden precisa mostrar que é valentão, especialmente depois da saída vergonhosa do Afeganistão. O Brasil não precisa disto, nem o resto do mundo. Problema é que ainda há disputas e fronteiras nos espaços de influências, sobretudo pelas grandes potências. Isso é outra história, E é de pouca valia um palhaço—com todo o respeito à profissão– no governo da Ucrânia, como aliás entre nós também, tristeza, né?
One Comment
Cecilia
Ótima análise !