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15 DE MARÇO. OS IDOS DE MARÇO, MAUS AUGÚRIOS E A POLÍTICA PELO CONFLITO

 15 DE MARÇO OU OS IDOS DE MARÇO: OS MAUS AUGÚRIOS E  A POLÍTICA PELO CONFLITO

Sim, tome cuidado com o dia 15 de março, com os «idos de março». «Beware of the Ides of March», o vidente alerta o general Júlio César nesses termos, logo no início da tragédia, tão bem posta nos barrocos tempos elizabetanos por Shakespeare, e que bem se projeta como o negativo de um filme nos tempos bicudos de um Brasil bolsonarista.

15 de março, dia em que o ditador, ignorando o alerta do vidente, os presságios funestos dos corvos, e o conselho da esposa Calpúrnia para não sair de casa nesse dia, decide ir ao Senado romano, e fazer proselitismo  em sua ambição por tornar-se rei.  Deu-se mal. No Senado, foi assassinado pelo senador e amigo Brutus, «an honourable man», líder de um complô que age justificando-se pela necessidade de salvar Roma e a República da ambição desmesurada de César.  Brutus também dá-se mal, como se sabe da história, obrigado a fugir para não ser ele também assassinado pelo povo manipulado pela inteligente oratória de Marco Antônio.

César foi um político e um líder sagaz. Venceu pela argúcia e pela negociação  os seus pares do Triumvirato, Pompeu e Crasso. Homem de posses, Crasso chegou mesmo a financiar-lhe a campanha para tornar-se ditador. César tampouco gostava de ter perto de si gente culta e inteligente: «essa gente pensa demais, é perigosa».

Quando um presidente da república convoca um manifesto de protesto popular, não para uma visão crítica de sua gestão, mas em favor da sua visão reducionista e autoritária da forma de governo, com críticas ao Congresso e à Justiça, em desrespeito  ao equilíbrio entre poderes, base da democracia, nada mais faz do que chamar para perto de si aqueles que podem atendê-lo e que aceitam ser manipulados.

Gente culta e inteligente, que «pensa demasiado», ficará por certo fora do convite a esse banquete de pão ázimo e ilusório, mas há um dado adicional que não é contemplado nessa equação montada para não ter uma solução que não a de um conflito político: sensibilidade pública. Se ainda falta muito, infelizmente, para a educação e a cultura estarem ao alcance de todos nós, brasileiros, como impõem a forma de vida civilizada  e a obrigação constitucional, há por outro lado uma sensibilidade crescente entre nós todos acerca dos valores maiores—em qualquer ponto que se escolha do espectro ideológico– que devem sustentar o fato político, que excluem a violência.

 Ainda que maltratada, ou simplesmente desprezada, essa sensibilidade, que somente sobrevive com a liberdade, nos permite vislumbrar as armadilhas autoritárias que se colocam  no contexto político prevalecente no momento. Boa parte de nós carregamos, felizmente, um «vidente» que nos põe em alerta para os perigos dos «idos de março».  Questão é que nem sempre queremos levar a sério as evidências do destempero político que presenciamos. A política do conflito, como a de César ou de Brutus, pode ter um preço muito alto para a nossa liberdade.