Nova York, abril de 1991. Estou por algumas semanas na cidade como delegado do Brasil (sou diplomata de carreira) nas reuniões preparatórias da conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, prevista para o Rio de Janeiro, em junho de 1992, chamada Rio-92, ou, ainda, no saber popular, erroneamente de ECO-92 (pois nunca foi uma conferência sobre ecologia!). Sobra um tempinho maior no intervalo de almoço, entre sessões da reunião, que ocorrem na sede da ONU. Faço uma reserva para uma pessoa no Boulay. É longe, região da Bolsa de Valores , pego o metro.
À entrada do restaurante, em um corredor elegante que antecipa sabores e experiência única, um caixote com maçãs frescas deixa exalar um perfume original, hoje comum e cansativo, viva a imitação. Levado a uma mesa discreta já preparada para apenas um «couvert» naquele ambiente algo pós-moderno, peço o «lunch menu». Taça de champagne, claro. Sou servido os pratos do menu, salada e costeleta de vitela, mas me surpreendo com a vinda de outros pratos servidos em ordem rigorosa. Um deles, um ensopado de ervilhas frescas, ainda sugerindo o orvalho da primavera dominante, protegia um pequeno naco de salmão selvagem quase vivo. E veio ainda uma terrina de frutos do mar. Na hora da conta, somente o preço do «lunch menu».
Bem, retorno deliciado ao trabalho e mais tarde relato o que vivi no Boulay a colegas da Missão do Brasil junto à ONU. E digo que é uma pedida imperdível, tudo aquilo que te servem pelo preço bem módico do «lunch menu». Marcamos dois colegas e eu, imediatamente, ida ao Boulay na semana seguinte. Fomos, pedimos o «lunch menu» e aguardamos ansiosos e afoitos pelo bela sequência de pratos, oculta no menu pedido, mas que eu pudera testemunhar na semana passada fazia parte da nossa opção «lunch».
Qual nada! Fomos servidos, e muito bem, mas somente os pratos constantes do «lunch menu», por sinal os mesmos da outra vez. Diante do relativo desapontamento meu e dos colegas, que me lançam olhares inquisitivos, «e não vêm outros pratos, como você falou?», digo, com toda a delicadeza e cuidado, ao garçon, sobre essa aparente diferença de tratamento, reportando-me à experiência da semana anterior. O garçon, dizendo lembrar-se de mim, vai à cozinha, faz lá suas consultas e volta com a resposta: o Chef Boulay o serviu, na ocasião passada, pratos adicionais em degustação, em reconhecimento da presença, no restaurante, de um comensal solitário, certamente um apreciador, pois não são muitos os que vêm comer sozinhos em restaurantes sofisticados e com preços correspondentes. Agora, em grupo, não tínhamos porque esperar o mesmo tratamento singular. Mesmo assim, saímos, claro, felizes e satisfeitos do Boulay, mas não deixei de ser alvo de sutis comentários de desapontamento dos frustrados colegas.
Uma exceção? Longe disso.